quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Que Inveja dos Fãs Estrangeiros do Cinema de Terror...


Coleção Mario Bava. Dos cinco títulos que o box traz, parece que só o A Máscara de Satã foi lançado por aqui, pela Dark Side, selo da Works DVD, e hoje dificílimo de encontrar. A solução é importar, mas desde que você saiba desbloquear seu DVD/BD player: é codificado para região 2 (Europa, África do Sul, Japão).


domingo, 3 de maio de 2009

Noite Macabra (S8L8, 2006)


Esse interessante filme belga até poderia ser confundido com uma refilmagem de Dia dos Namorados Macabro, mas a semelhança fica no fato de boa parte da história se desenrolar dentro de uma mina. O começo é instigante: no século XIX, vemos a caçada a Andrés Martiens, um assassino de crianças. Condenado numa época em que ainda havia a pena de morte na Holanda (onde se passa a trama), abolida em 1860, a ele é dada a opção: execução imediata ou trabalhar como um homem de fogo. Os homens de fogo eram condenados que, com uma tocha, adentravam as minas de carvão para explodir o gás nelas encontrado. Se sobrevivessem, seriam libertados.

Então a trama pula para a atualidade. A jovem Kristel (Victoria Koblenko) viaja com os amigos para buscar os pertences de seu recém falecido pai, que estava prestes a terminar um livro justamente sobre Andrés Martiens. Antes de voltarem, são convidados a visitar as minas objeto de estudo do pai de Kristel. Lá embaixo, o guia conta-lhes toda a história de Martiens, o último homem de fogo, cujo corpo nunca veio a ser encontrado - certamente, porque carbonizado. Claro, o estopim da trama propriamente dita vem a ser uma pane nos elevadores que os deixa presos naqueles túneis escuros. Na espera do guia que sai em busca de ajuda, o grupo faz uma mistura de álcool e drogas, sem dosar as consequências, ainda mais num ambiente escuro e claustrofóbico. Uma tábua ouija - para completar, alguns dos amigos de Kristel são vidrados em ocultismo - usada em tom de brincadeira desencadeará um inferno que nenhum deles esperaria.

Noite Macabra, lançado nos EUA como Slaughter Night, torna-se, a partir de então, um slasher com direito a possessões onde o vilão evocado Martiens pula de corpo em corpo (tal qual em Possuídos ou em Jason Vai Para o Inferno), não sem antes eliminar seu hospedeiro. Mas, a despeito de uma ou outra morte bastante gráfica e uma ou outra citação, voluntária ou não, a clássicos como, por exemplo, Evil Dead - A Morte do Demônio (as garotas sendo possuídas antes dos homens), o que incomoda é o fato da fotografia ser muito escura a maior parte do tempo. Ela até funciona bem na introdução, com os tons azulados auxiliando na criação da atmosfera lúgubre da floresta onde se dá a caçada noturna a Martiens. Mas quando acompanhamos Kristel e seus colegas fugindo/sendo possuídos, muitas vezes mal se vê o que está acontecendo. O interessante é que nos extras do DVD lançado pela Daylight no Brasil vemos um making of de imagens bem mais nítidas e num estágio de produção avançado. Ou seja, obviamente os diretores Frank Van Geloven e Edwin Wisser optaram por um escurecimento posterior da fotografia, no intuito de obter mais realismo - afinal, quase todo o filme se passa num ambiente naturalmente escuro, onde a luminosidade artificial realmente torna-se mero paliativo. Mas isso acaba prejudicando o entendimento do que se passa.

Afora isso, Noite Macabra tem uma boa resolução, uma motivação para os atos (do espectro) de Martiens que acaba bastante convincente. Alguns clichês à parte, é bom ver que países não tradicionais no gênero também conseguem fazer um terror de boa qualidade. No bom e desconhecido elenco, destaque para Kürt Rogiers, que participou de alguns filmes holandeses ou belgas de destaque como Nadine (2007), Happy Together (2008) e vários seriados locais.

sábado, 17 de janeiro de 2009

O Iluminado (The Shining, 1980)

Meu primeiro contato com a obra-prima de Stanley Kubrick foi justamente no ano de seu lançamento, em 1980. Mas como, se na época eu tinha meus nove para dez anos e a censura do filme era 18 anos? Bem, na verdade o que me marcou muito foi o tease-trailler exibido antes do filme Superman 2, com os grandes Christopher Reeve e Gene Hackman. Era apenas uma cena: justamente a do elevador jorrando sangue. Imagine o impacto dessa hoje até singela cena (quer dizer, não muito...) na cabeça de um guri de 10 anos que ia pela primeira vez a um cinema...

O segundo contato com O Iluminado veio uns sete anos mais tarde, quando li o romance de Stephen King que inspirou o filme de Kubrick - inspirou, já que não é uma transcrição fiel para as telas. Ainda hoje um dos melhores livros que li, King é mestre em desfiar uma trama que vai num crescendo de tensão, os fatos macabros aparecendo aqui e ali e envolvendo aos poucos os personagens. Mesmo que King não tenha gostado do resultado final da versão cinematográfica (tanto que na década de 1990 ele, mesmo, roteirizou uma minissérie - inferior ao filme, mas bem interessante - onde, inclusive, vemos materializado o jardim com as esculturas vegetais em forma de animais ganhando vida, como no romance - no filme, o jardim dá lugar a um labirinto), é praticamente consenso que a atuação de Jack Nicholson como o escritor Jack Torrance é uma das mais marcantes do cinema de terror. Na época, Nicholson já havia sido consagrado pela atuação oscarizada no brilhante Um Estranho no Ninho, de Milos Forman.

Torrance é um escritor desempregado que aceita o emprego de zelador em um enorme hotel nas montanhas do Colorado (é, desta vez não é o Maine tão amado de Stephen King...), que fecha no inverno e fica cercado pela neve, em completo isolamento. Para lá ele leva a mulher Wendy e o filho de cinco anos, Danny. Sensitivo, o pequeno Danny logo começa a ter premonições e visões no local. Logo que chegam, ele trava contato com o cozinheiro Dick Hallorann (Scatman Crothers)- assim como Danny, um sensitivo. Hallorann logo percebe que Danny sente algo errado com o local, assim como ele próprio sente. Mas pouco após esse diálogo telepático, a família fica finalmente a sós. E logo o hotel Overlook começa a influir na personalidade de Jack, vindo de um difícil período de abstinência alcoólica iniciado após ele quebrar um braço de Danny (isso fica mais enfático no livro). Os moradores espectrais do lugar prontamente exploram esse fraco de Torrance e, sabe-se lá como, Jack encontra e toma uns drinks no bar do hotel. E os fatos estranhos começam a se suceder...


Danny começa a ter visões. Numa cena clássica, ele corre num triciclo pelos corredores dos quartos, quando se depara com as meninas gêmeas à sua frente. Jack, enquanto isso, sem se dar conta, trava contato com os espectros do local como se reais fossem. Estes o induzem à bebida. Jack não consegue escrever - e isso fica claro numa cena aparentemente simples, mas de efeito aterrador: Wendy lê o que está escrito na folha na máquina de escrever de Jack:

"Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão"

Repetida ad nauseum, também nas folhas pelo chão, Wendy começa a se dar conta que algo está errado. Jack passa a tratá-la aos gritos, inconformado com a intromissão em seu trabalho. Danny passa a ser fortemente induzido a matar a curiosidade sobre o quarto 237 (no livro era 217, mas, a pedido do dono do hotel onde foi filmado, o número foi trocado para que os clientes não tivessem receio e aversão quanto ao 217: o número de quartos no hotel não chegava ao 237 - fonte: site adorocinema.com), apesar da orientação de Hallorann quanto a evitar esse número. Como resultado de sua incursão a esse quarto, marcas de dedos no pescoço, como constata em desespero Wendy, que a princípio desconfia de Jack. Quando Danny conta o ocorrido, Jack vai verificar a verdade. A cena que se segue é daquelas de gelar a espinha: toda a preparação dela é um golpe de mestre de Kubrick, desde a trilha sonora tétrica, a montagem paralela, até a câmera perscrutando lentamente o interior do quarto e as expressões ensandecidas de Nicholson.


Como eu disse, tudo vai num crescendo de tensão. As instigações dos fantasmas ao personagem Jack sucedem-se umas às outras; Danny entra num transe e repete, do sussuro ao grito, a expressão red rum (rum vermelho?) enquanto a mãe dorme. Quando ela acorda, vê num espelho a expressão escrita na porta: "murder" (assasinato).

E o elevador que jorra sangue? Onde entra nessa?Essa é uma das visões do pequeno Danny. Só mais uma das muitas cenas marcantes da obra-prima que é este O Iluminado. Difícil escolher uma como predileta. Jack arrebentando uma porta a machadadas, indo no encalço da mulher e do filho, também é uma cena brilhante e assustadora, parece que a câmera acompanha o machado descendo e arrebentando a madeira. O curioso, não sei se muita gente notou, é que há um erro de continuidade nessa sequência: Jack para e olha para dentro do banheiro pelo buraco que fez na porta. Porém, logo depois vemos a mesma porta ainda sem o buraco, com Jack a golpeando novamente. Interessante ainda mais quando sabemos do perfeccionismo de Stanley Kubrick que, por exemplo, chegou a repetir uma cena 127 vezes, até tirar de Shelley Duvall (a Wendy Torrance) uma atuação que lhe satisfizesse - mais uma vez, obrigado ao Adoro Cinema.com pela informação.

Por falar em Shelley Duvall - vista naquele mesmo ano como a Olivia Palito, no filme de Robert Altman - ela chegou a ser indicada ao Framboesa de Ouro. Sinceramente, não vi sua atuação assim tão ruim para receber tal indicação. Para ela, restou o papel da mãe desesperada, gritando com o marido louco babando e a perseguindo com um machado. Queriam o quê? Que ela recitasse Hamlet enquanto corria com o filho? Falando nele, Danny Loyd, o garoto que interpreta o personagem seu xará, só veio a fazer mais um filme, um drama para a televisão. Seguiu suas vocações e tornou-se médico. Mas, a julgar por O Iluminado, também poderia vir a ser bem sucedido como ator. Suas expressões vão da ingenuidade infantil ao aterrorizado naturalmente. Diz-se que sua atuação rivaliza com a do próprio Nicholson, dono de alguns dos olhares mais insanos do cinema nesta obra.

O Iluminado é um terror climático, psicológico, explorando mais a tensão e o suspense que o gore, o explícito. Dirigido por um mestre capaz de obras como Spartacus, 2001, Laranja Mecânica, cenas que mais sugerem a violência do que a mostram - um alucinado destruindo uma porta com um machado, uma enxurrada de sangue em uma visão, garotas mortas no chão em outra - acabam tendo um efeito muito mais potente do que certas obras que buscam o impacto por cenas meramente apelativas. Pena que Kubrick - também lembrado pelos intervalos cada vez mais longos entre um filme e outro - não dirigiu mais nada no gênero.

Nota: 9,5/10

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Quando Chega a Escuridão - Near Dark (1987)



"Reze Para Que Amanheça"



Quando Chega a Escuridão - feliz título nacional para o original Near Dark: algo como escuro eminente, próximo - é uma união de talentos então emergentes, como Eric Red - roteirista de A Morte Pede Carona (1986) - e Kathryn Bigelow, diretora e ex-mulher de James Cameron. Eric e Kathryn escreveram o roteiro dessa história contemporânea de vampiros em ambiente de Velho Oeste que tornou-se o primeiro sucesso de Bigelow na direção. Depois ela viria a realizar filmes como o bom thriller policial Jogo Perverso (Blue Steel, 1990, outra parceria no roteiro com Eric Red) com Jamie Lee Curtis e Ron Silver, ou a aventura Caçadores de Emoção (Point Break, 1991) estrelada por Keanu Reeves e Patrick Swayze; em 1995 dirigiu a ficção Estranhos Prazeres (Strange Days), com um Ralph Fiennes pré-O Paciente Inglês. Desde então, ela tem tido direções esporádicas e trabalhando mais em séries televisivas. Voltou à direção em 2000, com o insosso O Peso da Água (The Weight of Water), com Sean Penn, e voltou a uma melhor forma em 2002 com K19 - The Widowmaker, estrelado por Harrison Ford. Mas, ao que parece, Kathryn retornou com tudo, mesmo, em 2008, com The Hurt Locker, suspense de guerra passado no Iraque, tendo como tema um esquadrão anti-bombas que entra numa cidade onde qualquer canto pode guardar uma surpresa desagradável. O ótimo elenco traz Guy Pearce, David Morse, Ralph Fiennes e Evangeline Lili (a Kate, de Lost). Apesar da recepção fria no Festival de Veneza, o filme tem agradado em cheio aos fãs do gênero: no imdb.com a sua nota média tem sido 8.




Realizado no mesmo ano de Garotos Perdidos (Lost Boys), Quando Chega a Escuridão, a meu ver, o supera em vários aspectos, que o tornaram um cult. O elenco marcante misturava nomes experientes como Tim Thomerson a emergentes como Bill Paxton (A Mão do Diabo, Twister). A bela fotografia de Adam Greenberg dando ênfase ao contraste entre a claridade do dia no deserto e o anoitecer no mesmo. Outro ponto alto é a trilha sonora eletrônica do grupo alemão Tangerine Dream. O curioso é que essa trilha - lembro-me bem, já que na época adquiri o vinil - foi usada à torto e à direito por redes de televisão brasileiras, notadamente pelo SBT, pasmem, quando da exibição de A Hora do Pesadelo II. Faixas de Near Dark, como Bus Station, Severin Dies e Fight at Dawn foram usadas indiscriminadamente na versão dublada do filme de Freddy Krueger. Até hoje eu gostaria de entender o porquê dessa bizarrice.


A trama de Near Dark foca-se no fazendeiro Caleb (Adrian Pasdar, o Nathan de Heroes), jovem do interior poeirento dos Estados Unidos que, certa noite, envolve-se com a bela e jovem Mae (a loirinha Jennifer Wright, de Chuva de Chumbo), integrante de um grupo que rasga as infindáveis estradas do oeste ianque num furgão totalmente negro - janelas aí inclusas. Logo Mae estará sendo pressionada pelo sua família a decidir-se: ou Caleb torna-se seu alimento ou... Um beijo torna-se a salvação (ou não?) de Caleb, que, a partir de então, gradativamente vai-se tornando avesso à claridade. Relutante em aceitar sua nova condição vampírica, ele terá de aceitar ou encarar sua nova família: os patriarcas Jesse e Diamondback (Lance Henriksen e Jennete Golstein, respectivamente), o garoto Homer (Joshua Miller) e, principalmente, o feroz e psicótico Severin (forte atuação de Bill Paxton). Há muitos elementos marcantes nessa história: um quê de Romeu e Julieta no amor entre integrantes de famílias incompatíveis; um marcante traço de faroeste numa paisagem digna do gênero, com direito até a um duelo, onde Caleb lutará também pela vida de seu pai e sua pequena irmã; a mítica figura do sinistro furgão (que pode ou não ter inspirado o que é utilizado pelo monstro Jeepers Creepers, de Olhos Famintos); e um tratamento muito estiloso para com o mito do vampiro: eles queimam lentamente, até virar fumaça, quando expostos à luz do Sol; escondem-se sob panos pesados, dando um toque misterioso às suas figuras muitas vezes chamuscadas; chegam a tomar sangue em canecas, sangrando suas vítimas feito porcos; e - fato muito curioso - Kathryn Bigelow preocupou-se em não mostrar as presas dos sanguessugas em uma cena sequer, provavelmente buscando com isso um efeito de maior realismo, como se aquela troupe pudesse ser qualquer bando de lunáticos sedento por sangue. O desfecho também busca uma saída, por assim dizer, realista para o destino dos protagonistas.



Há muitos elementos que o aproximam de Os Garotos Perdidos (rapazes vampirizados lutando para proteger a família), mas a verdade é que Quando Chega a Escuridão tem um clima mais sombrio, ressaltado pelas paisagens desoladoras e a música marcante, e praticamente não tem descansos cômicos, como a dupla de Coreys (Haim e Feldman) de Lost Boys. Se muito, um humor nigérrimo na figura do psicopata Severin bebendo sangue em caneca, num ataque alucinado num bar muitos anos antes de Salma Hayek liderar a sangreira em Um Drink no Inferno. Por fim, Near Dark quase não escapou da mania (feia) dos estadunidenses de refilmar tudo quanto é clássico ou cult de terror. O produtor Michael Bay só desistiu da refilmagem graças ao sucesso de Crepúsculo, cuja trama é considerada muito parecida com Near Dark: o amor entre jovens onde a condição humana de um e vampírica de outro é o grande problema. Mas, convenhamos, Crepúsculo não é digno da mínima comparação com Quando Chega a Escuridão - esse, sim, um filmaço de terror que deveria ser descoberto pelas novas gerações que ficam a babar ovo por essa estorinha boba de vampiros sem sangue que está na moda.


Nota: 9/10